Até a data de publicação desse texto, em Janeiro de 2024, a Fórmula 1 já realizou corridas em 78 circuitos diferentes, passando por todos os continentes. Alguns estão desde os primeiros anos da categoria, como a pista de rua de Mônaco e os autódromos de Silverstone na Inglaterra, Spa-Francorchamps na Bélgica e Monza na Itália. outros tantos passaram, saíram do calendário e deixaram pouquíssima, ou nenhuma, saudade, como é o caso do infame circuito sul-coreano ou a primeira pista de Las Vegas, improvisada no estacionamento de um dos luxuosos hotéis-cassinos da cidade.
No entanto, também tivemos pistas incríveis e que marcaram história na categoria que, cada uma por suas razões, não só deixaram de figurar no calendário da Fórmula 1 como foram desativas ou demolidas, restando apenas lembranças nas nossas memórias e nos inúmeros vídeos que, ainda bem, podemos achar na internet. Listo aqui então 5 dessas pistas que, na minha opinião, deixaram as maiores saudades.
5. Riverdale (Estados Unidos)
Após o fracasso de público na corrida em Sebring em 1959, os promotores do GP dos Estados Unidos buscavam uma nova casa para o evento e acabaram acertando com o novo circuito de Riverdale, inaugurado em 1957 e localizado no meio do deserto californiano, 50km ao leste de Los Angeles.
O circuito sediou apenas uma etapa da F1, antes do GP dos EUA migrar para Watkins Glen já em 1961 mas nem por isso merece o esquecimento. Muito pelo contrário. Uma desafiadora combinação de curvas cegas, esses de alta velocidade, curvas inclinadas e áreas de escapas precárias formavam um circuito tão espetacular quanto perigoso.
E essa foi justamente a fama que o circuito carregou durante seus 29 anos de existência, o de um circuito muito perigos, razão pela qual era constantemente criticado, chegando inclusive a sofrer pequenas mudanças no traçado e nas áreas de escape na tentativa de aumentar, em vão, o nível de segurança da pista.
Ao longo de sua história, onde foi palco para corridas da IMSA, Indy e até da NASCAR, Riverdale contabilizou nada menos que 21 mortes, sendo 19 pilotos, um mecânico e um espectador, além de incontáveis acidentes graves, sendo o mais lembrado o acidente que quase matou Caroll Shelby em 1957.
Na década de 80, o avanço urbano na região chegou às vizinhanças de Riverdale. E o circuito que antes ficava no meio deserto e longe de tudo, passava a ser, cada vez mais, rodeado por casas e comércio local. E essa expansão urbana foi justamente o motivo para o fim do circuito, que acabou demolido em 1989 para dar lugar à um Shopping Center e novas residências.
4. Adelaide (Austrália)
O circuito de rua Adelaide ainda vive. É casa da Clipsal 500, etapa do calendário da Supercars, categoria mais famosa do automobilismo australiano. No entanto, o circuito atual (com 3,2km de extensão) é apenas uma versão capada do antigo circuito (com 3,8km de extensão) que foi palco do GP da Austrália de Fórmula 1. entre 1985 e 1995.
Um dos melhores circuitos de rua que já tivemos, na minha opinião. Suas “curvas-esquinas” de 90º contrastavam com uma extensa reta e duas chicanes rápidas. Uma combinação que, no geral, rendia boas corridas. O circuito também foi palco de algumas decisões de campeonato, como a espetacular final de 1986 e a controversa batida de Schumacher em Damon Hill em 1994.
Em 1995, última passagem da F1 por Adelaide, o circuito ainda registrou o recorde, que dura até hoje, de maior público da história em um fim de semana de Fórmula 1, com incríveis 520.000 pessoas durante o evento.
3. Jacarepaguá (Brasil)
Casa do GP do Brasil entre 1978 e 1989 (sendo a etapa inicial do calendário a partir de 1983), Jacarepaguá, ou Autódromo Nelson Piquet, foi a principal vítima das faraônicas e superfaturadas obras dos Jogos Pan-americanos de 2007 e das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.
O circuito, mesmo que totalmente plano, contava com uma interessantíssima combinação de curvas rápidas e de raio longo, uma grande reta e, claro, um dos mais bonitos cenários do mundo, com os morros e florestas do Rio de Janeiro de plano de fundo. Era também uma excelente pista de se assistir às corridas presencialmente, especialmente na grande arquibancada da reta oposta, onde era possível ver grande parte do circuito, os boxes e os principais pontos de ultrapassagem.
Como curiosidade, das 10 etapas da F1 ocorridas em Jacarepaguá, 5 foram vencidas pelo francês Alain Prost. O único brasileiro a vencer na pista foi Nelson Piquet, em 1986, corrida que teve ainda Ayrton Senna em segundo, fechando a dobradinha brasileira.
Além da Fórmula 1 e das categorias nacionais, Jacarepaguá ainda sediou corridas da CART entre 1996 e 2000, em um traçado quadri-oval construído especialmente para receber a categoria estadunidense.
Em 2005, com as obras para os Jogos Pan-Americanos de 2007, o circuito foi mutilado, onde boa parte do seu traçado original deu lugar às instalações para os jogos. A pista ainda seguiu sediando a Stock Car Brasil e outras categorias menores, antes de ser completamente demolido em 2012 para dar lugar ao parque olímpico.
2. Avus (Alemanha)
Avus é outro exemplo de pista que sediou apenas uma etapa da Fórmula 1, especificamente o GP da Alemanha de 1959. No entanto, talvez estejamos falando aqui do circuito mais insano que a F1 já visitou em sua história!
Construído na década de 1910 e concebido inicialmente como pista de testes, o traçado não poderia ser mais simples. Duas longas retas paralelas, com mais de 3km de extensão cada, eram interligadas por um cotovelo super fechado em uma extremidade, e por uma incrível curva inclinada na outra.
E quando falo de incrível, é incrível mesmo! Para efeito de comparação, o superoval de Daytona, nos Estados Unidos, possui uma inclinação de 31º em suas curvas. O curvão de Avus possuía incríveis 43º graus de inclinação!
O traçado extremamente exótico e simples fez com que Avus, em sua única corrida, detivesse o posto de corrida com maior média horária da história da F1 com exatos 229,28 km/h, recorde que só viria a ser quebrado pelo GP da Inglaterra de 1985 (235 km/h).
No entanto, como já era de se imaginar, Avus era uma pista extremamente perigosa. Ainda mais se lembrarmos que não havia NENHUMA proteção da curva inclinada. Inclusive, durante uma corrida de carros de turismo prévia ao GP da Alemanha de 1959 um carro simplesmente voou para fora da pista levando à morte o piloto francês Jean Behra.
Já na década de 60, a F1 e as principais categorias do mundo começaram a utilizar cada vez menos pistas com curvas tão inclinadas por motivos de segurança, justamente por isso o antigo oval de Monza acabou desativado e Avus teve a sua curva inclinada demolida, dando lugar a uma curva totalmente plana.
O circuito, em um traçado reduzido, ainda sediou corridas de DTM e da Fórmula 3 alemã até o final dos anos 90, onde foi totalmente desativado e deu lugar a uma auto estrada.
1. Hockenheim (Alemanha)
Quem me acompanha nas redes sociais sabe que, pra mim, a mutilação do antigo traçado de Hockenheim é um dos maiores crimes da história do automobilismo mundial. O antigo traçado, com suas longas retas pela floresta possuía uma áurea única. Era mágico ver os carros saírem do trecho do estádio, barulhento, arquibancadas lotadas e com toda a estrutura de boxes, para entrarem praticamente em um universo diferente floresta a dentro. Três chicanes intercalavam com quatro longas retas onde os F1 atingiam velocidades acima dos 350 km/h antes de voltarem ao sinuoso trecho do Estádio.
Eram dois trechos bem distintos. As longas retas exigiam que os carros fossem a pista com o mínimo de arrasto aerodinâmico possível, afim de que pudessem aproveitar as longas retas. No entanto, isso fazia com que os carros fossem extremamente ariscos nas freadas para as chicanes e no trecho do estádio.
O antigo Hockenheim terá um lugar para sempre no coração dos brasileiro. Foi lá que vimos, de forma emocionante, a primeira vitória de Rubens Barrichello na Fórmula 1, em 2000, em uma corrida que aconteceu de tudo! Essa corrida inclusive escancarou alguns problemas do circuito que motivaram a sua mutilação.
Os longos setores da floresta eram de difícil controle, o que tornava relativamente fácil a invasão de pista, como de fato vimos acontecer naquela corrida. Outra grande queixa era de que os espectadores, concentrados no trecho do estádio, perdiam boa parte da ação da corrida, especialmente as ultrapassagens nas fortes freadas das chicanes. Somam-se a tudo isso as alegações de que, em um circuito tão extenso e no meio da floresta era mais complicado de o resgate chegar a possíveis acidentes graves.
Dois anos depois,então, vimos a mutilação do circuito. As longas retas da floresta foram substituídas por um complexo de curvas sem alma. O traçado de 6.8km de altíssima velocidade deu lugar a um traçado de 4.5km sem sal, sem nada especial e altamente medíocre, desenhado pelo arquiteto alemão Hermann Tilke, conhecido por ser justamente um arquiteto de pistas sem graça.
O trecho da floresta, desativado, teve todo o seu asfalto retirado e a natureza, pouco a pouco, vem tomando conta do espaço vazio. Hoje, ainda é possível observar as clareiras onde outrora os carros rasgavam as longas retas do circuito. No entanto, é questão de tempo para que tudo vire vegetação e a floresta tome por completo todo o espaço.
E você, que outras pistas já destruídas você mais sente falta na Fórmula 1?